terça-feira, 30 de outubro de 2012

Desconhecido

O cheiro do café entrava pelas narinas e minhas mãos tremiam calorosamente, talvez por estar com medo ou por simplesmente não saber o que fazer quando chegasse em casa. Solteira. Desempregada. O barulho do metrô me trazia a vasta realidade. Aquela velha história de busca por uma nova vida fazia meu coração palpitar e minha face transpirar, assistir a TV passava-se a ser inútil e decepcionante, ruborizava a cada gesto e tentativa de argumentação equívoca. Martha! Martha!- ouvia chamar meu nome. Procurava quem, procurava onde mas era de pouca valia, era o meu próprio fantasma cobrando-me as próprias necessidades da vida, era o que chamamos de subconsciente indagando as novas perspectivas. Anoitecia em casa, anoitecia na estação de metrô, agora já era dia do outro lado do mundo, e aquela que era forte como um escudo se desfazia na sala de sua casa em meio a tantos pensamentos soltos, em meio a tanta melancolia. E logo ao amanhecer sair da cama era a coisa que ela se negava a fazer, o desemprego já era fatídico, há tempos não escrevia uma só linha, há tempos não escrevia um só livro. Coisas aconteciam em sua vida, com razões que ela mesma agradecia por desconhecer.


                                               Marcele Gorito

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